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LUA CINTILANTE (2019)

SHIMMERING MOON

 

Apelidada de “Chinatown”, a zona industrial de Varziela, que me propus a registar, tem a maior comunidade chinesa em Portugal. Com cerca de dois mil metros quadrados, e, segundo os dados oficiais, cerca de 23 mil chineses, continua a ser um território alienado. Percorrendo as fantasmagóricas ruas, rodeada de armazéns, lixo e desperdício, roupa a secar e, acima de tudo, um silêncio profundo e aterrador que apenas é interrompido pelo som dos carros que chegam e das carrinhas que saem, mas também por uma ou outra discussão em mandarim, apercebo-me de que este local é, para nós ocidentais, incansável e incompreensível em muitos aspetos. Os próprios vendedores e moradores não estão familiarizados com a língua portuguesa e, num considerável número de montras observamos cartazes que anunciam a oferta de emprego. Continuo a percorrer as ruas. Mais silêncio. Uma constante sensação de hostilidade e desconfiança. Sinto não pertencer àquele lugar.

Quanto mais caminho, afastando-me dos lugares familiares, como a estrada nacional 13 ou mesmo a linha do metro, sou acareada com a distópica presença do homem, do quotidiano, no deserto industrial da “Chinatown”. Para além dos sempre presentes lençóis a esvoaçar, encontro também hortas, sofás, brinquedos. Os vestígios de vida não param de surgir, mas os seus donos parecem invisíveis. De quando a quando, ouvimos as suas vozes, observamo-los a observarem-nos através das montras, mas a nossa interação restringe-se a isto.

 

Nicknamed “Chinatown”, the industrial zone of Varziela has the largest Chinese community in Portugal. With about two thousand square meters, and according to official data, about 23,000 chinese people, remains an alienated territory. Walking through the ghostly streets, surrounded by warehouses, rubbish and waste, drying clothes and, above all, a deep and terrifying silence that is only interrupted by the sound of arriving cars and exiting vans, but also by argues in mandarin, I realize that this place is, for us westerners, unreachable and incomprehensible in many ways. Most of the sellers and residents themselves are not familiar with the portuguese language and, in a considerable number of shop windows, we observe posters announcing the job offer. I keep walking the streets. More silence. A constant sense of hostility and distrust. I feel I don't belong there.

​The farther I am, away from familiar places, I am caressed with the dystopian presence of man, from everyday life, in the industrial desert of Chinatown. In addition to the ever-present flowing sheets, I also find gardens, sofas, toys. Traces of life keep appearing in the landscape, but their owners seem invisible. From time to time we hear their voices, we watch them watching us through the shop windows, but our interaction is restricted to this. “Shimmering Moon” is the name of one of the stores that, like many others, ironically appear to boast opulence when we look at their facades, but they too are surrounded by empty cardboard boxes and tangled crosspieces.

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