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O CASULO QUE NOS ENVOLVE: O SILÊNCIO E A PAISAGEM INTERIOR

"A gritaria atual proporcionou uma cacofonia de muito altos decibéis."

Pereira, F. J. (2017). O silêncio do tempo do silêncio.

John Cage (1912-1992), ao questionar a existência do silêncio, leva-me a debater sobre a sua simbologia, em oposição à total ausência de som. O silêncio é uma abstração, uma alusão a uma condição. O silêncio é um vazio aparente que desperta um conjunto de estímulos. Na ausência do silêncio, estes estímulos estão camuflados nas diversas paisagens que compõem o ritmo alucinante do real que habitamos, assoberbado pelo ruído constante.

O conceito do silêncio, assim como o do vazio espacial e temporal, aplicado no quotidiano é impossível de alcançar, existirá sempre um conjunto de acasos sonoros e visuais perturbadores deste estado. Neste sentido, o espectador carece, cada vez mais, do silêncio. Na sua obra arquitectónica, Louis Kahn (1901-1974) cria uma relação simbiótica entre a luz e o silêncio: o silêncio proporciona a luz, o ruído. No contexto do “Casulo”, esta “luz” corresponde aos sons produzidos pelo indivíduo. As condições às quais o espectador é submetido, o silêncio e a escuridão, proporcionam a amplificação da sua luz interior. Prevalece, assim, o sentido da audição face a tudo o que sofre de invisibilidade, bem como a todos os restantes estímulos que interferem com a autocontemplação.

Deste modo, proponho-me a explorar a necessidade do silêncio enquanto impulsionador da introspeção, enquanto ato contestatário face ao contexto social enfrentado. Através da blackbox, onde apenas poderá estar contido um indivíduo procuro suscitar a redescoberta do Eu íntimo, por anulação do ambiente circundante e dos objetos que o compõe. Esta anulação de estímulos supérfluos propicia a introspecção e o contato com o interior intrínseco a cada um. O acaso, presente nos fenómenos da ação humana (e.g. através da respiração, de movimentos inconscientes e tiques nervosos), que pontuam e rompem com o silêncio do “Casulo” negro, compõem a paisagem sonora corpórea, amplificada, de cada indivíduo que penetra neste espaço. Esta perceção do corpo, que ocupa um determinado espaço-tempo, é essencial para a formação da personalidade individual de cada um.

Francisca Dores (2018)

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